A Belém do pentecostes na época da berlinda
Posted: 11 Oct 2008 10:16 AM CDT
Neste domingo se realiza mais uma vez, infelizmente, o círio de Nazaré, oremos por BelémBelém, uma das cidades mais antigas da Amazônia, possui um relato interessante: certa vez um caboclo da região descobriu uma imagem à beira de um igarapé, que hoje corresponde à área da Basílica de Nazaré. Segundo os relatos, Plácido, o caboclo, levara a imagem para sua casa, porém esta desapareceu, voltando ao seu lugar de origem. Este relato serviu como base para a realização da maior festa católica-cristã do planeta: conhecido como o Círio de Nazaré.
Todavia, a mesma Belém, cidade das mangueiras e do círio, também ficou, em tempos recentes, cada vez mais sendo marcada por outro movimento religiosos, bastante distinto na época, onde o Brasil era predominantemente católico. Tal movimento é conhecido como Movimento Pentecostal ou simplesmente pentecostalismo. No início do século XX, dois missionários oriundos da Igreja Batista Sueca, Daniel Berg e Gunnar Vingreen, desembarcaram na terra paraense. Ambos foram os fundadores da Igreja Evangélica Assembléia de Deus, que hoje conta com mais de oito milhões de membros em todo o Brasil, sendo a maior igreja evangélica do país. Belém se tornou o berço da doutrina pentecostal evangélica.
Em uma época como essa, vários evangélicos ficam retraídos e praticamente são excluídos quando o assunto é mídia. O que eles pensam sobre esta época, como vêem a celebração? nossa reportagem busca esclarecer esta questão e entrevistou jovens evangélicos da assembléia de Deus, da congregação Templo-central, que se situa a apenas um quarteirão da basílica, para falar sobre o tema.
Para Glenda Ribeiro, funcionária pública e bacharel em direito pela Universidade da Amazônia, o governo erra em dar tanto apoio para o círio. " O estado dá demasiado apoio ao círio por vê-lo como uma festa tanto cultural quanto religiosa, de forma igualitária. É claro que o círio possui elementos culturais, mas não se deve perder o foco que o ele é uma festa primordialmente religiosa". A adolescente radialista Gabriela Septimio possui visão semelhante, "ouço dizer que o estado sede maiores patrocínios a estes eventos também. É verdade que o governo contribui com eventos evangélicos ou espíritas algumas vezes, mas nada comparado com o que fazem com o círio". Nilton Rodolfo, estudante, músico e blogueiro evangélico ressalta: " existe o apoio do governo às celebrações evangélicas, porém é muito menor".
A mídia foi também considerada um fator ainda maior para a divulgação desnecessária do círio. " Acho que ela [ a mídia] é a principal divulgadora da festa religiosa e influenciadora de seus espectadores, sejam católicos ou não, seja isso positivo ou negativo", afirma Septimio. Glenda Ribeiro destaca: " a mídia secular sempre deu maior apoio ao círio".
Todavia, não é somente a falta de apoio do governo e da divulgação da mídia para outros eventos evangélicos que é sentido pelos jovens. " Os paraenses não são homogêneos, porém nesta época constantemente ouvirmos afirmarem que a festa é o natal dos paraenses. Somos fortemente constrangidos a interagir na festa, pois tudo gira em volta do círio, todas as atividades sociais, estudantis, governamentais. Acabamos, mesmo sem querer, envolvidos na festa", desabafa Nilton. Segundo ele, deve haver mais respeito às pessoas de credos diferentes e liberdade de convicção e crença: "Não é sábio que os evangélicos desrespeitem os católicos, mas sim que busquem evangelizar não somente neste período, mas demonstrar suas convicções no ano todo". Gabriela Septimio completa: " acredito que o povo de Deus não deve simplesmente cruzar os braços e achar 'bonitinho' a festa , mas também não agredir os católicos...devemos continuamente falar de Jesus para as pessoas e induzi-las ao puro conhecimento da verdade: a palavra de Deus e a salvação em Jesus Cristo".
Essa é Belém, não somente casa do pão, mas também de diferentes convicções e fé.
Por Victor Leonardo e Fulvio Dantas
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