Em qual Evangelho você crê? Esta pergunta tem sua razão de ser, porque embora haja um único e verdadeiro Evangelho de Cristo, Paulo faz menção de “um outro evangelho” (Gl 1.6), um “evangelho segundo o homem” (Gl 1.11). Dito de outra forma: há “evangelho” que não é o de Jesus.
O evangelho “segundo o homem” é um simulacro, versão barata, perigosa, eivada de mentiras. É um evangelho de segunda mão, que passa pela interpretação deformada de homens comprometidos com o sucesso de seus ministérios e não com Deus.
Enquanto a Bíblia mostra o cotidiano do crente, sem retoques, de forma nua e crua, o “outro” evangelho maquia a realidade no púlpito e no imaginário coletivo do povo cristão. Soren Kierkegaard, no século XIX já afirmava: “Ainda bem que a vida não é como o sermão do domingo. Ao menos a vida tem sentido e o sermão não”.
E qual o problema de alguém viver fundamentado em fantasias e mentiras? Um dia a vida vai se mostrar em toda a sua crueza e a bolha vai estourar: “Nunca me falaram!”. E teremos uma geração de decepcionados com Deus, que por não terem sido alertados, se tornarão um exército de céticos e amargurados.
Quem deseja viver com sobriedade o Evangelho de Cristo, haverá de compreender e saber que:
Deus não coloca os seus filhos em uma redoma de vidro; estamos sujeitos a acidentes, a enchentes, à intempéries da vida. Alguns viverão muito, outros serão chamados cedo e de modo inesperado.
Não há garantias que você será possuidor de prosperidade material e abundância de bens. Nem todos terão recursos para fazer a viagem dos sonhos, trocar de carro anualmente ou viver numa casa confortável. Esqueça quando lhe disserem que “você nasceu pra ser cabeça, não cauda”, tirando o versículo inteiramente de seu contexto original [imagine uma copeira cristã servindo cafezinho ao diretor e profetizando que em breve se sentará na cadeira dele].
Muitos morrerão da doença que padecem (2Rs 13.14), independentemente da fé que possuem. Lutero durante toda a sua existência foi prisioneiro de longos períodos de depressão. Charles Spurgeon sofria de reumatismo, gota e problemas nos rins. Calvino padeceu de uma dor de cabeça crônica que o atormentou a vida toda. Nem todos escaparão do câncer. Nem todos viverão até cem anos gozando de boa saúde.
A vida cristã não se constitui só de regozijos e vitórias. Sofreremos injustiças, derrotas, perseguições e seremos mal falados. Enquanto pregadores dizem que o cristão deve viver sorrindo, a Bíblia diz que haveremos de prantear. Davi e o povo choraram “até não terem mais forças para chorar” (1Sm 30.4). Isso também pode ocorrer com você: de chorar até não mais poder.
Nem todos teremos uma vida familiar tranqüila e harmônica. Davi teve uma família complicada e um histórico conturbado de filhos rebeldes, e até mesmo um caso de estupro e incesto em sua casa. John Wesley, fundador do metodismo, não teve um casamento propriamente feliz, assim como tantos outros cristãos.
Na galeria dos “heróis da fé” em Hebreus 11 são lembrados os valentes que venceram, lutaram, e conquistaram cidades. Mas nesta mesma galeria há também, aqueles que foram reconhecidos por Deus como homens e mulheres de fé, mas foram “serrados ao meio... mortos... afligidos... maltratados...” (Hb 11.36-38) e não obtiveram em vida a vitória (Hb 11.40).
Quando falamos em vida abundante, o que vem à sua mente? Dinheiro sobrando, futuro garantido, família saudável, contas pagas, ausência de problemas? Se é isso que você espera de Jesus, é melhor começar a rever seus conceitos.
Em primeiro lugar, vida em abundância não é para ser confundido com excesso de bens, “muito dinheiro no bolso, saúde pra dar e vender”. Não é privilégio dos ricos ou dos bem nascidos. É uma promessa de Cristo que independe de condições financeiras, idade, saúde ou qualquer outra distinção. Cristo é o motivo da abundancia. Não é algo que eu consigo por mim, mas algo que recebo em Cristo. Paulo entendeu isso muito bem, e apesar de todos os reveses, dizia: “entristecido, mas sempre alegre, nada tendo mas possuindo tudo....”.
Abundância é a qualidade de algo que sobeja, que derrama, que transborda... e todos usufruem com você. Abundância existe para quem se dá totalmente, sem reservas. Ser pleno é amar demais, é crer demais, é chorar demais. Só o que chora é capaz de sorrir. Querer negar a tristeza a qualquer custo é tornar-se insensível também para a alegria. Viver abundantemente é viver com paixão e intensidade onde Deus lhe colocou.
É um dom de Jesus doar vida de qualidade para quem caminha com Ele. Eu diria que Jesus é “Nutritivo”, pois nos capacita, ensina, anima, fortalece. Felizmente há pessoas que são assim, verdadeiros enviados do Filho que nos compreendem, nos amam como somos, sem impor condições. Com elas, nós crescemos e somos renovados.
Por outro lado, em oposição à abundância de Cristo, há Satanás que veio para “matar, roubar e destruir”. Muitos, sem o saberem, são arautos desta forma de vida. Chamo de pessoas “Tóxicas”: palavras de sarcasmo, ironia, cinismo, não querem servir, mas serem servidas, extremamente egocêntricas, pensando apenas no próprio bem estar.... Claro: ninguém pode dar o que não possui. O único que tem verdadeira vida para doar é Jesus.
Decepcionante é viver somente para si; é querer ser feliz sem compartilhar; é exigir de Deus tratamento especial; é omitir-se acuado para se preservar; é não arriscar nunca; é viver enfadado com tudo; é não saber dar uma sonora gargalhada e rir-se de si mesmo; é paralisar a vida enquanto não recebe de Deus o que tanto quer; é não reconhecer a Graça de Deus naquilo que já tem....
Quem vive se guardando, quem não aceita se consumir como o pavio de uma vela que ilumina a todos, ao chegar ao fim da vida irá se perguntar porque não amou mais porque não arriscou mais, porque não se deu mais...
Ainda há tempo para transbordar!
Pr. Daniel Rocha
dadaro@uol.com.br
Fonte:Biblioteca da Teologia
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"O ladrão não vem senão para roubar, matar e destruir; eu vim para que thenham vida e a tenham em abundância". João 10:10
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