Você está em um passeio turístico pela cidade de Jerusalém, e um amigo seu começa a agir de modo estranho. No começo você pensa que ele está apenas cansado e atordoado com a mudança de fuso horário (em inglês), mas quando ele começar a se contorcer na cama proclamando ser João Batista, você percebe que alguma coisa está errada. Seu amigo está com a chamada síndrome de Jerusalém.
MENAHEM KAHANA/AFP/Getty Images Um soldado israelense rezando no muro ociental |
Jerusalém é um lugar importante para muitas pessoas, principalmente os seguidores de três das principais religiões existentes no mundo: cristianismo, judaísmo e islamismo. Jerusalém é a Cidade Santa, e peregrinos vêm a ela todos os anos, a fim de se aproximar mais dos fundamentos de sua fé. Para os judeus, toda a cidade é Santa, especialmente a Muralha Ocidental (mais conhecida como Muro das Lamentações), que é tudo o restou do Grande Templo destruído pelos romanos. Os muçulmanos vêm até a Cúpula da Rocha (ou Mesquita de Omar), um santuário que é o terceiro local mais sagrado para a fé islâmica. Cristãos fazem peregrinações à igreja do Santo Sepulcro, que marca o ponto onde Jesus foi crucificado e morto, e a Via Dolorosa, caminho que Jesus percorreu, carregando sua cruz.
Jerusalém também é uma cidade política, disputada por várias religiões e facções culturais. Portanto, nesse ambiente arcaico, enriquecido por uma bela e dolorosa história, talvez não seja surpresa que aqueles que procuram por alguma motivação encontrem mais coisas do que realmente existam. Imagine que você é uma garota suburbana morando em uma pequena cidade do interior, criada sobre princípios bíblicos, e encontra-se exatamente no mesmo ponto onde Jesus, seu salvador, morreu. Você provavelmente deve estar desapontada – veio aqui para ver esse lugar cheio de poeira? Por outro lado, poderia reagir com alegria e reverência. Nesse momento, a proximidade com Deus é impressionante.
Mas nem todos saem se proclamando profetas. Teriam estas pessoas algum problema mental? Ou foram apenas arrebatados por uma experiência espiritual muito forte? Nesse artigo vamos explorar a síndrome de Jerusalém e examinar alguns casos reais ocorridos com pessoas que lá estiveram. Também discutiremos o que é ou não real, suas causas e como tratá-las.
Sintomas da síndrome de Jerusalém
Sansão é um personagem bíblico conhecido por sua força sobre-humana – o Hércules do Velho Testamento. Um americano de meia-idade achou que ele mesmo era Sansão. O homem forte da era moderna decidiu que parte do Muro Ocidental precisava ser movido. Ele passou muito tempo se preparando fisicamente e veio a Israel para movê-lo. Depois de uma indisposição com autoridades, ele foi levado para um hospital psiquiátrico.
Já no hospital, um dos psicanalistas inadvertidamente o avisou de que ele não era Sansão. Ele arrombou uma janela e fugiu do hospital. Uma enfermeira o encontrou no ponto de ônibus, elogiou sua força e destreza, fazendo com que ele cooperasse.
Também há o caso da Virgem Maria, ou melhor, a mulher que acha que é a própria Maria. Todos os dias ela segue para a Igreja do Santo Sepulcro, e pranteia a morte de seu filho Jesus no altar de Gólgota. Há uma outra Virgem Maria que convida a todos para a festa de aniversário de seu filho em Belém. A polícia israelense já capturou inúmeros indivíduos vestidos com peles de animais, tentando batizar pessoas, tal como João Batista.
GALI TIBBON/AFP/Getty Images Os peregrinos cristãos da Etiópia dormem do lado de fora da Igreja do Santo Sepulcro em Jerusalém |
De acordo com o Dr.Yair Bar-El, os sintomas da Síndrome de Jerusalém são:
- ansiedade;
- a urgência de deixar o grupo e explorar Jerusalém sozinho ou sozinha;
- uma obsessão por limpeza, por banhos, chuveiros, etc;
- cobrir-se com uma túnica branca feita com lençóis de cama;
- cantar louvores ou recitar músicas ou versos bíblicos;
- ficar andando nos locais sagrados;
- pregar um sermão neste mesmo local, conclamando as pessoas a uma vida melhor [fonte: Bar-El et al].
Os guias turísticos de Jerusalém observam estes dois sintomas: agitação, pessoas tensas ou que começam a se desvincular do grupo querendo seguir viagem sozinhas devem ser acompanhadas de perto. Uma vez que se encontram no estágio da túnica branca, não há nada que as faça parar.
Outras pessoas dizem que outro exemplo real da síndrome de Jerusalém é o que aconteceu com David Koresh, fundador da seita Herdeiros de Davi envolvido no incidente em Waco. Foi somente depois de sua viagem a Israel que Vernon Wayne Howell rebatizou a si mesmo como David Koresh, em homenagem ao Rei David da Bíblia, e começou a disseminar suas obscuras profecias sobre o Armagedon. Alguns especialistas afirmam que grupos como a seita de Koresh tendem a ser inofensivos, a menos que se sintam perseguidos. Um psiquiatra chegou a sugerir que os negociadores dessem crédito aos devaneios de Koresh, como normalmente é feito nas clínicas que tratam de problemas como o da Síndrome de Jerusalém [fonte: CrimeLibrary (em inglês)].
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